quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Papa e a mansão de luxo do Cardeal Bertone

Cardeal Bertone compra apartamento por mais de dois milhões euros, ao lado da Casa de Santa Marta, onde vive o Papa Francisco. Vaticano resiste ao apelo do Papa para a Igreja se aproximar dos mais pobres.

Rosa Pedroso Lima   
              
Tarcisio Bertone, o todo poderoso secretário de Estado do Vaticano
Defensor de uma Igreja fundada "na pobreza e na atenção aos mais pobres", o Papa Francisco enfrenta agora um problema mesmo à sua porta. Na verdade, mesmo ao lado da Casa de Santa Marta, que Jorge Bergoglio escolheu como local para viver.
O caso está a causar grande polémica e gira em torno do cardeal Tarcisio Bertone, até há seis meses, o todo poderoso secretário de Estado do Vaticano. Bertone acaba de comprar um apartamento de 700 metros quadrados e de dois milhões de euros, no palácio vizinho da "casa" do Papa.
O alto luxo que rodeia as instalações do cardeal é chocante. E prova que o Vaticano resiste à revolução do Papa Francisco.
"O apartamento é espaçoso, como é normal nas residências nos antigos palácios do Vaticano, e completamente restaurado à minha custa", escreveu Bertone no site da arquidiocese de Genoa, que dirigiu entre 2002 e 2006. O facto do cardeal ter sentido necessidade de dar uma explicação pública já é um avanço. Mas pouco serviu para acalmar as hostes, depois do jornal "La Repubblica" ter denunciado o caso e acrescentado que a compra "enfureceu o Papa Francisco".
Bertone nega. Segundo ele, não só Francisco lhe telefonou no dia 23 de Abril, como fez questão de lhe manifestar a sua "compreensão e o desagrado pelos ataques que me foram dirigidos a propósito do apartamento".
Para o ex-secretário de Estado do Vaticano o caso não é um problema porque a casa "irá beneficiar outros", quando dela prescindir. E termina o seu depoimento chamando um dos últimos santos da Igreja em sua defesa: "Nas palavras do Santo Papa João XXIII, não páro para apanhar as pedras que me atiram". 
O caso Bertone sucede ao do cardeal alemão Franz-Peter Tebartz van Elst, demitido em Outubro passado, depois de se ter publicamente gabado de ter feito obras de 31 milhões de euros na sua nova residência paroquial. O Papa que quer impor a pobreza como regra, conta com fortes resistências internas de uma Cúria, habituada a viver como "autênticos príncipes da Renascença", conforme disse ao Expresso o vaticanista Andrea Tornielli.  Mas as polémicas que estas situações agora provocam, também mostram como a Igreja está a mexer.
Os conservadores internos têm razões para temer o futuro. Só esta semana, estiveram reunidos no Vaticano o grupo de cardeais nomeados por Francisco para promoverem a grande reforma da Cúria. Os trabalhos - cuja conclusão está agendada apenas para o próximo ano - já deram alguns resultados, entre eles a criação de uma comissão para as questões económicas e outra para a protecção de menores. Ambas reúnem-se pela primeira vez  a partir de sexta-feira. 
A prova da vontade do Papa Francisco em reformar a velha estrutura que governa a Igreja é expressa todas as semanas. Ontem, o recado foi dado na missa matina na Casa de Santa Marta. Numa Igreja verdadeiramente cristão "não há lugar para lutas de poder, invejas e má língua". Quem quiser, que enfie a carapuça

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